17 de novembro de 2007

Carro de Boi

Na fazenda de vovô,
Não faltava um mandingueiro,
E nem um cão farejador,
Que acompanhava o vaqueiro,
Cerca, caniço e cancela,
E em cada torno uma sela,
E de lado o quarto da tenda,
As cangaias do comboi,
Na frente um carro de boi
Valorizando a fazenda.

Era feito de aroeira,
Fora de marca e de moda,
De canzil, reidão e corda,
E de pinhão uma cantadeira,
Três juntas de bois puxavam,
Dois carreiro acompanhavam
Com a vara de ferrão.
Sempre de choto a galope
Descendo e subindo tope,
Nas quebradas do Sertão.

Feito de madeira forte,
De talba cumprida e larga,
Era o transporte de carga,
E do povo também transporte.
No sábado cedo do dia,
Reunia a freguesia,
Da velha comunidade,
E seguiam encima do bruto
Iam comprar o produto
Ao pessoal da cidade.

Parece que tô ouvindo,
Do carreiro o velho grito
E do carro o canto bonito,
As suas rodas rangindo.

Ele descendo e subindo
Da gruta pro chapadão.
Se atolando nas brenhas,
Levando morões e lenhas
Pra fazenda do patrão.

Lá na estrada de barro,
Cortando o meio do carrasco,
Inda tem dos bois o casco
E marca das rodas do carro.
Debaixo de um pé de manga,
Tem canzil, reidão, e canga
E um vara de ferrão,
Soltas pelo abandono,
Depois da morte do dono
Sem a menor descrição.

Meu velho carro de boi,
Que me levava a novena,
Transformou-se em peças e cena
De um filme que já se foi.
Os bois a tempo morreram,
As terras os donos venderam
E foram morar na cidade.
Eu sou o velho carreiro,
Que hoje estou prisioneiro
Nas muralhas da saudade.



Autoria: Coroné Cafuçú

Poemas do Coroné Cafuçú, com a participação de Antônio Nascimento, os mesmos serão publicados em um cordel, em breve.


Engenho Quebrado

No Sítio Trapiá tem
Um velho engenho quebrado
Entre as trempes do passado,
Longe do seu dono além.
Depois do seu dono ausente
Ele virou indigente
E órfão da sua riqueza.
Todo manchado de preto,
Igual um homem esqueleto
Agonizando a fraqueza.

Da sua grande estrutura
Já se foi mais da metade
E sua chaminé na altura
Também foi na tempestade.
Ta se findando o desenho
Das peças do velho engenho,
Paró, fornalha e caldeira,
Tronco, manjara e moenda,
Se ficarem expostos a venda
Não conheço quem lhe queira.

Se ele falasse dizia:
Não deixe eu sofrer assim,
Já dei tanta alegria,
Hoje estou quase no fim,
Ah! se chegasse um vivente
Pra me reformar urgente,
Voltando a minha estrutura
Pra ver meu paró enchendo,
Minhas caldeiras fervendo,
E um montão de rapadura.

Se voltasse o cambiteiro
E sem faltar o tangedor,
Perto de mim o tronqueiro,
Do outro lado o tombador.
A fornalha cor de facho,
E o mestre mexendo o tacho,
O mel fervendo e subindo
Burro batendo pestana,
Moendo e quebrando cana
E nova garapa saindo.

Aqui no passado tinha,
Festa, alegria e fartura
Além da batida alvinha,
Mel de dedo e rapadura.
Mel fino numa panela,
Muita rapa de gamela,
E garapa numa cabaça.
Alfenim soltando cheiro,
E ninguém falava em dinheiro
Por que tudo era de graça.

Comecei olhar pra ele
E num sentimento que eu tenho
Comecei falar por ele,
Como quem fosse um engenho,
Sai com as lágrimas caindo,
E logo comecei pedindo
Do mais velho ao mais novo,
Cada um faça um empenho
Reconstruindo o engenho
Dando alegria ao seu povo.

Eu também como poeta,
Dou a contribuição
Com minha alma inquieta
E chorando com emoção.
Que fazendo uma campanha
a comunidade ganha
o resto que aqui está
pra ajudar eu também venho
para salvar o engenho
da fazenda Trapiá.

Autoria: Coroné Cafuçú, Antônio Nascimento